“Castanheira Renasce” é uma acção liderada pela SMART VISION e pela Câmara de Castanheira de Pera, para apoiar a reconstrução de uma casa atingida pelo fogo de 17 de Junho.
Designa-se de “Castanheira Renasce” e consiste num projecto de apoio a uma família atingida pelo incêndio de 17 de Junho que vitimou 64 pessoas. Iniciativa já está em marcha e promete mudar sete vidas.
E se fosse possível renascer das cinzas? A mitologia grega tornou conhecido ao mundo a Fénix, um pássaro que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das suas cinzas. É mais ou menos isso que o projecto liderado pela SMART VISION (empresa de Aveiro) e a Câmara de Castanheira de Pera se propõe fazer. E até a sua designação pressupõe um “voltar à vida”: “Castanheira Renasce”.
A SMART VISION – que trabalha na área de assessoria e auditoria estratégica e tem como uma das suas clientes a Câmara de Castanheira de Pera – sendo “tocada” e “sensibilizada”, como a maioria dos portugueses, pela tragédia do incêndio de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, fez tudo menos ficar indiferente às imagens negras e sombrias que a televisão e os demais media transmitiram. O terror vivido naquela noite e que a luz do dia só agudizou ao mostrar o maior número de vidas perdidas (64) de que há memória em fogos florestais em Portugal chocou o país. A região passou a ficar conhecida pelos piores motivos e deu lugar a manifestações de solidariedade. Locais, regionais, nacionais, emigrantes, todos se prontificam a ajudar na medida das suas possibilidades. Uns enviaram dinheiro, outros bens de primeira necessidade, outros deslocaram-se para serem mãos activas.
É, justamente, neste ponto, de ser uma parte activa de um processo de cura que parece não ter fim, que surge o projecto da SMART VISION e ao qual o Diário de Aveiro se associou desde a primeira hora. Apoiar uma família necessitada que tenha estado envolvida nas perdas materiais ou humanas – da tragédia provocada pelo incêndio. “Mais do que fazermos apenas algo para sermos solidários, temos a obrigação de fazer muito por razões de humanismo”, começa por apresentar a empresa no website que criou para divulgar o projecto – castanheirarenasce.com -, acrescentando que na base da acção que vai ser desenvolvida “mais do que recuperar o que foi perdido, interessa recuperar, prolongar no tempo e espaço as memórias, e aprofundar os laços entre os solidários e os destinatários”. Isto porque com este projecto que a SMART VISION e a Câmara de Castanheira de Pera definem de empreendimento solidário – os promotores pretendem estabelecer uma ligação com a família que irão ajudar. “Estaremos ao lado dessas pessoas até que o processo se conclua”, garantem.
Mas, então, em que consiste concretamente, a ajuda a realizar? “O projecto Castanheira Renasce pretende actuar no terreno e, portanto, recuperar os espaços e habitações devastados pelo incêndio”. Quem se associar a este projecto – empresas ou cidadãos em termos individuais não faz qualquer contribuição monetária, “apenas” materiais de construção, material de rega e agrícola, electrodomésticos, espécies florestais e animais, brinquedos e demais utilidades que estão, neste momento, a ser identificadas de acordo com a necessidade da(s) família(s) a ser apoiada.Segundo explicam os promotores, “além do contributo material, será também possível ajudar na limpeza e reconstrução das áreas afectadas, através de mão-de-obra e trabalho de máquinas e equipamentos”. A SMART VISION coordenará com o Executivo do Município de Castanheira de Pera a recepção e a alocação dos materiais e da mão-de-obra solidária”.
Família apoiada vive na “estrada da morte”
Depois de algumas reuniões de selecção da família(s) a apoiar, já está identificada aquela que irá beneficiar deste projecto. Trata-se de um agregado familiar de seis adultos e uma criança, que vive numa casa localizada nas imediações da via que ficou conhecida como a “estrada da morte”. A família, já anteriormente sinalizada pela Segurança Social por viver numa habitação que não oferecia as melhores condições para dar “abrigo” a tantas pessoas, entre elas uma criança, viu a sua casa ser atingida pelas chamas e ter ficado parcialmente destruída. Apesar de não ser a “melhor” como refere a Segurança Social, a verdade é que era o único tecto de que dispunham. A agravar a este cenário, um dos elementos da família tem necessidades especiais, já que usa cadeiras de rodas, após a amputação de uma perna.
Assim, para além de recuperar a casa que ficou afectada pelo incêndio de 17 de Junho – faz hoje precisamente um mês – o projecto liderado pela SMART VISION vai permitir acrescentar um outro quarto à habitação, cumprindo, assim, um dos requisitos exigidos pela Segurança Social para que a família pudesse continuar no espaço. Identificada a família que vai ser apoiada, os promotes do projecto vão desenvolver acções para envolver empresas e a sociedade civil neste processo, fazendo uma listagem das necessidades para a recuperação e construção da casa desta família, sendo que no caso de se conseguirem bens e materiais excedentes, estes irão ser canalizados para outras famílias daquele concelho.
E pretende-se que o processo seja totalmente transparente, razão pela qual foi criada a página de Internet referida (que será sempre que necessário actualizada), onde é possível conhecer o conceito deste projecto, que começa desde logo por apresentar um vídeo onde se pode ver a dimensão da tragédia, e estará igualmente a funcionar uma página de Face-book do projecto para dar conta, à sociedade e aos envolvidos, de qualquer evolução. Antes de mais, a SMART VISION vai enviar “convites” a uma lista de 80 empresas da região de Aveiro e não só para se associarem a esta acção, com donativos de material para que possa ser usado na recuperação da(s) casa(s) de Castanheira de Pera.
Entretanto, o Diário de Aveiro, sendo media partner deste projecto e desde a primeira hora a ele ligado, irá noticiando cada evolução. E prometemos – eu particularmente – arregaçar as mangas e “meter a mão na massa”, ir para o terreno e ajudar, literalmente, na reconstrução desta casa e dar uma nova cor a estas sete vidas. Vidas cuja vista da janela de casa se tornou demasiado cinzenta. Mas agora irá renascer, como a Fénix.
in Diário de Aveiro – SEGUNDA-FEIRA | 17 JUL 2017 | 07
Ana Sofia Pinheiro